Lobista Fernando Baiano diz que entregou R$ 4 mi em escritório de Cunha
O lobista Fernando Antonio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano, afirmou nesta terça-feira (26) que entregou pessoalmente cerca de R$ 4 milhões em espécie a pessoas ligadas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O dinheiro teria sido pago pelo lobista Julio Camargo.
Baiano fez a declaração em depoimento à Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, que está analisando processo contra Cunha. O lobista foi convocado como testemunha indicada pelo deputado Marcos Rogério (DEM-RO), relator do processo que pede a cassação do mandato do presidente da Câmara.
Fernando Baiano disse que Camargo lhe devia R$ 16 milhões segundo suas contas, mas acordou o pagamento de R$ 10 milhões. Cunha o teria ajudado a cobrar a dívida. Em troca, Baiano afirma que repassaria parte do valor para a campanha de Cunha. Inicialmente repassaria 20% do valor recebido, mas esse montante teria sido aumentado para 50%. O dinheiro teria sido entregue a um funcionário do presidente da Câmara, em um escritório no Rio de Janeiro, a pedido de Cunha.
Os valores teriam sido pagos em cinco ou seis vezes, segundo o lobista, entre 2011 e 2012. Baiano ainda disse que teriam ficado R$ 3 milhões pendentes entre Camargo e Cunha, além dos R$ 4 milhões, mas que ele não sabe se foram pagos posteriormente.
Baiano afirma que se encontrou mais de dez vezes com Cunha, entre reuniões no escritório e na casa do presidente da Câmara.
O lobista afirma que não tratava o repasse como propina nas conversas com Cunha, mas que sabia que era ilícito. "Que é propina, é. É vantagem indevida. É propina", disse em seu depoimento.
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados investiga Cunha por suposta quebra de decoro parlamentar - teria mentido à CPI da Petrobras no ano passado, ao negar que tivesse contas secretas no exterior. O presidente da Câmara pode até ter o mandato cassado.
Baiano, porém, disse não saber se Cunha teria contas no exterior. "Sempre o pagava em espécie, e nunca fiz depósitos em contas fora do país."
Por meio de sua assessoria de comunicação, o presidente da Câmara disse que "a alegação é antiga, sem provas, integra a denúncia do STF (Supremo Tribunal Federal), e foi desmentida com contundência pela defesa do deputado".
No começo da sessão, o presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), anunciou que não poderiam ser registradas imagens de Baiano. Segundo Araújo, a medida foi resultado de um acordo com os advogados da testemunha, que fizeram o pedido.