'Amado dela está sempre presente', diz biógrafa sobre obras de Zélia
As memórias do amor entre a escritora Zélia Gattai, cujo centenário de nascimento é celebrado no dia 2 de julho, e o romancista Jorge Amado, ficaram eternizadas em grande parte das obras da autora, que se denominava memorialista. É o que aponta a biógrafa oficial de Zélia, a italiana Antonella Roscilli, que escreveu "Zélia de Euá rodeada de estrelas".
“Na minha opinião, não existe um único ponto central na obra de Zélia Gattai, a não ser a sua extraordinária memória. Utilizando a memória, Zélia escreve muito sobre seu Amado, como também sobre sua família e sobre seus antepassados italianos, nos trazendo lembranças e histórias. Existem vários pontos centrais na obra literária dela. Porém, sem dúvida alguma, podemos afirmar que, mesmo nos livros sobre sua família de origem, o Amado dela está sempre presente”, pondera.
O próprio Jorge também contou sobre o arrebatamento que sentiu por Zélia no livro de memórias "Navegação de cabotagem". “Ao conhecer Zélia, arriei bandeira e pedi paz", diz trecho da obra do autor. O primeiro encontro do casal formado pelo baiano e pela paulista filha de imigrantes italianos aconteceu no início do ano de 1945, em São Paulo.
Jorge estava na capital paulista porque era membro do Partido Comunista e participava da organização de um comício para o colega de legenda Luís Carlos Prestes, que tinha acabado de sair da prisão. O encontro com Zélia, que se tornou a companheira dele até o final de sua vida, foi no 1º Congresso de Escritores Brasileiros.
Antonella Roscilli diz que os dois compartilhavam ideiais políticos. “Ela admirava a coragem dele, o fato que ele acreditava em alguns valores e lutava por eles. [Jorge] escrevia livros, o prendiam, ia para cadeia e, quando saia, ele continuava. Ela admirava nele o que em italiano se define ‘tenacia e persistenza’. Mas também Jorge Amado admirava Zélia, infinitamente”, afirma.
O primeiro beijo do casal aconteceu de maneira inesperada e acabou virando página de livro. O episódio é narrado na obra de Zélia "Vacina de sapo e outras lembranças". Ela estava na casa de Jorge, em uma “noitada” com amigos, quando ele pediu que Zélia buscasse copos para que servisse vinho aos convidados.
"Aos passarmos por uma porta, juntos um ao outro, paramos de repente. Sem saber por que, nos fitamos. Nem a barreira de copos entre nós impediu que nossas bocas se aproximassem. Sem braços para abraçar, sem mãos para acariciar, nem voz para sussurrar. Apenas os lábios se uniram em um beijo delicado e ardente, de labareda e brasa. Um contido tesão, rolando entre nós dois desde o início, escravizado e reprimido a duras penas, rompeu as amarras e conquistou a alforria”, diz trecho da obra.
Eles oficializaram a união com casamento ainda no ano de 1945, meses após se conhecerem. Dois anos depois, Jorge, então deputado federal por São Paulo, foi expulso do parlamento e teve que deixar o país após o cancelamento do registro do partido comunista. Zélia tinha dado à luz o filho João Jorge e resolveu seguir o marido no exílio à Europa, em meados de 1948.
G1BA