Baiana de 72 anos mantém 27 casas alugadas e abriga portadores de HIV
A técnica de enfermagem aposentada Maria Conceição Macedo, de 72 anos, lembra como se fosse hoje do momento em que se deparou com dois pacientes "abandonados" pelas famílias na enfermaria do Hospital Roberto Santos, em Salvador, no final dos anos 80, por serem portadores do chamado vírus HIV, à época recém-descoberto por pesquisadores.
Comovida, a então funcionária novata da unidade médica decidiu alugar uma casa com recursos próprios para abrigar os doentes -- um jovem de 18 anos, que era travesti, e um homem de 30 --, que não sabiam do paradeiro dos parentes.
Conceição diz que o episódio não sai da memória, quase três décadas depois, pelo fato de os dois terem sido os primeiros dos hoje 850 portadores da doença - entre eles 70 crianças - que ela se prontifica a ajudar. A baiana que passou a dedicar a vida a crianças, jovens e adultos carentes infectados com HIV é fundadora de uma instituição beneficente que leva o seu nome e virou até tema de um livro, que reúne depoimentos de amigos sobre sua trajetória de vida.
“Continuarei com essa missão até não puder mais falar, não puder mais andar e morrer [...] Ajudar o próximo é muito bom, é gratificante"
Maria Conceição Macedo
A obra, intitulada "Tia Conça: A nossa senhora, Conceição", foi lançada na última quarta-feira (6), na capital baiana. O livro tem, ao todo, 24 depoimentos, entre eles do líder espírita José Medrado, do fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, e do cantor e compositor J. Velloso, e conta com desenhos feitos por crianças de dois a seis anos antendidas na creche da instituição, denominada de Creche Casa VIHDA, no bairro da Liberdade. Os beneficiados pela instituição fundada pela baiana, a maioria atendidos desde criança, recebem cestas básicas, assistência para o tratamento e acompanhamento.
"O livro foi uma coisa muito boa. Fiquei muito gratificada por conta do reconhecimento. É quase uma biografia, mas sem nenhuma linha escrita por mim. Se fosse eu que tivesse falando no livro, muitas pessoas até poderiam duvidar das histórias contadas, mas são os outros que estão relatando. São pessoas de valor que me conhecem desde o início. Então, para mim, é muito mais importante que essas pessoas falem do que eu", destaca "Tica Conça", como é carinhosamente chamada. A mulher mantém atualmente, com ajuda de doações da sociedade civil e trabalho de volutários, 27 casas alugadas em diversos bairros de Salvador, que abrigam portadores de HIV.
G1BA