Brasília tem dia marcado por agressões, prédios depredados e prisões
Organizada para pedir a renúncia do presidente Michel Temer e protestar contra as reformas da Previdência e trabalhista, a manifestação organizada por centrais sindicais desencadeou na convocação das Forças Armadas para policiar Brasília durante uma semana. Mas antes do desfecho, deixou pessoas feridas, prédios depredados, pontos de ônibus destruídos, fogo ateado em banheiros químicos e manifestantes presos.
A Secretaria da Segurança do Distrito Federal não informou o efetivo usado pela polícia. Números oficiais indicavam 49 feridos, entre eles, um por arma de fogo, confirmado pela secretaria. O repórter fotográfico Wilton Júnior, do jornal O Estado de S. Paulo, foi atingido por estilhaços de uma bomba. Sete pessoas foram detidas pela polícia.
O ato começou de forma pacífica ao meio-dia. Menos de três horas depois, o cenário era totalmente distinto, com confronto entre a Polícia Militar e um grupo de black blocs.
Mascarados
A transformação do ato pacífico em violento começou quando um grupo de mascarados, descontente com um bloqueio formado pela PM em uma área mais próxima do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, começou a jogar garrafas plásticas e pedaços de madeira. Embora a ação fosse de um grupo restrito, a reação da polícia foi generalizada. Àquela altura, conforme a PM, o protesto reunia cerca de 35 mil pessoas.
Bombas de gás e spray de pimenta começaram a ser lançados em todo o grupo de manifestantes. Houve correria. Pessoas tentaram se refugiar nos estacionamentos dos ministérios, que também serviam de abrigo para a cavalaria. Um grupo de manifestantes partiu para o confronto, dando continuidade a uma escalada de violência que só foi controlada às 18h.
O primeiro alvo foi o Ministério da Fazenda. Por volta das 14h30, o grupo tentou invadir o prédio. Vidros foram quebrados e a segurança, reforçada. Cerca de 400 homens faziam a proteção do local.
A onda de violência se estendeu. Do alto de carros de som instalados na Esplanada, locutores de centrais sindicais pediam calma aos manifestantes e para que policiais deixassem de usar spray de pimenta. Sem sucesso. Cada vez mais exaltados, manifestantes atearam fogo em banheiros químicos, destruíram pontos de ônibus e partiram para o ataque ao Ministério da Agricultura, provocando um incêndio que atingiu a área térrea do edifício.
Segurança reforçada
Em meio ao barulho de manifestantes, bombas de gás e helicópteros, a segurança do Palácio do Planalto foi reforçada. Meia hora após o incêndio no Ministério da Agricultura, 30 homens do Batalhão da Guarda Presidencial faziam bloqueio na rampa que dá acesso ao palácio. Outros 170 estavam a postos nas guaritas.
No efetivo da segurança do presidente, havia mais cem pessoas. Enquanto a segurança do Palácio do Planalto era reforçada, a Casa Civil enviava uma ordem para que o expediente dos ministérios fosse encerrado e os servidores, liberados. O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, e outros funcionários tiveram de sair pelos anexos, nas vias paralelas à Esplanada.
Bate-boca e agressão
O anúncio da convocação das Forças Armadas para proteger os prédios na Esplanada dos Ministérios provocou enfrentamento e bate-boca entre deputados da base aliada e da oposição dentro do plenário da Câmara. Parlamentares chegaram a se agredir.
O clima de tensão tinha começado antes. Deputados da oposição ocuparam a Mesa Diretora do plenário, em protesto contra o que chamavam de “excessos” da polícia.
De cima da Mesa, opositores ergueram uma faixa pedindo “Fora Temer” e gritaram palavras de ordem pedindo eleições diretas para presidente.
A tensão aumentou logo após o líder do PSOL, deputado Glauber Braga (RJ), anunciar na tribuna da Casa que Temer tinha editado o decreto autorizando a convocação das Forças Armadas para proteger prédios depois que manifestantes começaram a quebrar ministérios no protesto fora do Congresso. Depois do anúncio, deputados da base aliada e da oposição começaram a discutir, a se empurrar, trocar pontapés e até socos no centro do plenário.
A confusão envolveu um grande número de parlamentares. O clima só acalmou com a chegada do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O parlamentar suspendeu a sessão por 30 minutos e convocou líderes partidários para uma reunião em seu gabinete. No encontro, Maia negou ter pedido o uso das Forças Armadas para reprimir os manifestantes. Ele informou ter pedido apenas envio de homens da Força Nacional.
Segurança em Brasília terá 1.500 homens
O patrulhamento da Esplanada dos Ministérios contará com 1.500 militares – sendo 1.300 do Exército e 200 da Marinha. Ontem à noite, o local começou a ser ocupado pelos militares. Numa primeira etapa da operação, receberão reforço no policiamento os prédios do Palácio do Planalto, do Itamaraty, do Ministério da Defesa e das três forças, Exército, Marinha e Aeronáutica. Prédios que foram atacados também receberão reforço de tropas, assim como os palácios da Alvorada e do Jaburu.
O Ministério da Defesa informou também que não vai atuar nos gramados e nas vias, cujo policiamento ficará a cargo da Polícia Militar e, eventualmente, da Força Nacional de Segurança. A ideia é garantir o direito de ir e vir dos funcionários. O presidente Michel Temer acionou ontem a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que as Forças Armadas façam a segurança da Esplanada dos Ministérios, após protesto que deixou prédios de várias pastas depredados. O decreto foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União.
O governo explica que o emprego da GLO é diferente de autorizar a intervenção militar, o que acontecia na ditadura. Ela foi utilizada durante a Olimpíada e a Copa do Mundo para garantir a segurança no Distrito Federal.
O decreto repete que os presidentes João Baptista Figueiredo e José Sarney fizeram nos anos 80 quando grandes manifestações eclodiram na capital federal.
Em 1984, o presidente João Figueiredo decretou medidas de emergência para conter os protestos por eleições diretas para presidente em 1985.
Em 1986, uma “operação de guerra” foi montada pelo general Mário Orlando Sampaio para conter milhares de manifestantes que tomaram a Esplanada dos Ministérios para protestar contra medidas econômicas do governo Sarney, durante o Plano Cruzado II. O Planalto foi cercado pelo Exército.
Uma nota divulgada pelo Planalto na noite de ontem diz que o decreto que colocou nas ruas as Forças Armadas será revogado assim que a situação se acalmar.