Como o desastre de Mariana fez com que um professor brasileiro fosse indicado a 'Nobel da Educação'

vemvercidade 17 Dez, 2016 10:42 - Atualizado em 17 Dez, 2016 10:51 BBC
Além de discutir conteúdos e métodos de ensino, o professor também criou músicas de paródia para facilitar o aprendizado de química
Reprodução/Arquivo Pessoal Além de discutir conteúdos e métodos de ensino, o professor também criou músicas de paródia para facilitar o aprendizado de química
Se ganhar o prêmio global, professor quer ensinar outros docentes a trabalhar o conteúdo das disciplinas por meio de projetos
Se ganhar o prêmio global, professor quer ensinar outros docentes a trabalhar o conteúdo das disciplinas por meio de projetos

Em cinco anos dando aulas na rede estadual do Espírito Santo para alunos do Ensino Fundamental e Médio, ele acumula prêmios pelos projetos educativos que desenvolveu. E agora, é um dos 50 finalistas do Global Teacher Prize, considerado o "Nobel da educação".

É a segunda vez que brasileiros fazem parte da lista de finalistas divulgada pela ONG Varkey Foundation.
Em 2016, além de Wemerson, o professor amazonense Valter Pereira de Menezes também é considerado para o prêmio de US$ 1 milhão, entregue a "um professor excepcional que tenha feito uma contribuição extraordinária para a profissão".

O nome do vencedor será anunciado em março, durante um evento em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Para Wemerson, que ensina Química e Ciências na cidade de Boa Esperança, o segredo do sucesso está em motivar os alunos, descobrindo como eles gostariam que o conteúdo fosse abordado na sala de aula - ou fora dela.

"Desde 2014, a primeira coisa que faço com meus alunos é mostrar o plano de ensino daquele ano para eles e trocamos ideias sobre como estudar aqueles conteúdos. 

Rio Doce

Wemerson ficou famoso no Estado na primeira escola em que trabalhou, ao criar um projeto de paródias musicais para ensinar o conteúdo de Química de todo o ano letivo. "Foram mais de 40 músicas, com samba, funk, pagode, era uma loucura na escola. Fico até emocionado lembrando", diz.

No início das aulas em 2016, em sua consulta com os alunos da 8ª série da Escola Estadual Antônio dos Santos Neves, ele percebeu o impacto do rompimento da barragem em Mariana, que havia ocorrido em novembro de 2015.

"Estamos muito perto de Colatina (MG) e de Linhares (duas das cidades atingidas pela lama que desceu o rio Doce). Os alunos só falavam disso e queriam aulas práticas de Química. Então pensei em levá-los para fazer uma pesquisa científica de campo, em Regência (ES)."

O projeto "Filtrando as lágrimas do Rio Doce" deu ao professor seu primeiro prêmio nacional, o Educador Nota 10, concedido aos dez melhores educadores do Brasil. A partir daí, ele passou a sonhar com o reconhecimento internacional.

"Os professores de escola pública precisam de investimento dobrado e merecem uma boa estrutura. A educação não pode ser paralisada para que futuramente venha a ter investimentos melhores. O investimento precisa ser priorizado agora, nesse momento", afirma.

O capixaba já sonha alto com o prêmio de US$ 1 milhão, caso seja selecionado. A Fundação Nogueira, que ele pretende criar, vai oferecer bolsas a alunos do Ensino Médio que queiram tornar-se professores - um incentivo para uma carreira em que baixos salários e pouca infraestrutura são citadas como motivos para não seguir.