Os jovens brasileiros premiados nos EUA por soluções para problemas sociais

vemvercidade 27 Dez, 2016 18:19 - Atualizado em 27 Dez, 2016 18:30 BBC
Jovens viajaram para os Estados Unidos em outubro para conferências e fizeram um estágio de um mês em organizações que atuam nas suas áreas
Divulgação Jovens viajaram para os Estados Unidos em outubro para conferências e fizeram um estágio de um mês em organizações que atuam nas suas áreas

Uma organização que ajuda a encontrar abrigos para moradores de rua, um aplicativo que permite a pequenos criadores monitorar seus rebanhos e um projeto que leva aulas sobre a Constituição a escolas públicas são algumas das iniciativas gerenciadas por brasileiros e selecionadas por um programa do governo dos Estados Unidos que incentiva a inovação.

Lançada pelo presidente Barack Obama neste ano, a Young Leaders of the Americas Initiative (iniciativa para jovens líderes das Américas) escolheu 250 jovens da América Latina e Caribe que desenvolveram propostas inovadoras para problemas sociais.

Custeados pelo governo americano, os jovens viajaram para os Estados Unidos em outubro para conferências e fizeram um estágio de um mês em organizações que atuam nas suas áreas. O programa termina em 2017, quando os anfitriões visitarão os jovens selecionados em seus países.

Felipe Neves (SP): aulas sobre a Constituição em escolas públicas

O advogado Felipe Neves, 27 anos, passou a dar aulas como voluntário a jovens do ensino público quando sua diarista lhe contou que faltavam professores na escola da filha dela, no Jabaquara, zona sul de São Paulo.

Professor assistente da PUC-SP e especialista em direito comercial, resolveu enfocar a Constituição nas aulas. "Muitos deles estão indignados com os políticos e querem entender o que estão vendo nos jornais, na TV. Somos apartidários e damos conhecimento e informação para que eles possam desenvolver o pensamento crítico."

O Projeto Constituição cresceu e hoje engloba 300 alunos em quatro escolas de ensino médio. Neves diz estar recrutando professores, arrecadando fundos e negociando com a prefeitura paulistana para tentar expandir o programa para toda a cidade.

"O Brasil é um país que tem muita gente sugerindo, criticando e pouca gente fazendo. É difícil começar uma organização social porque ninguém quer sair da zona de conforto", afirma.

Murillo Sabino (RJ): moradias para pessoas em situação de rua

Após trabalhar na Coca-Cola, o engenheiro de produção Murillo Sabino, 27 anos, fundou uma ONG que busca reduzir o número de pessoas que moram nas ruas do Rio de Janeiro, o Projeto Ruas.

A organização tenta envolver nos trabalhos as comunidades que convivem com essas pessoas, conectando-as com centros de reabilitação para dependentes, defensores públicos e assistentes sociais.

"Entramos nos bairros e promovemos workshops sobre como falar com essa população, para que os moradores atuem permanentemente com ela."

Em outra frente, a organização busca parcerias com empresas e governos para testar no Brasil um projeto inspirado no programa Housing First, adotado nos Estado Unidos. O programa inovou ao oferecer moradias individuais para pessoas em situação de rua imediatamente, em vez de levá-las a abrigos ou centros para dependentes. Em contrapartida, os beneficiados se comprometem a assumir o aluguel das residências em alguns meses.

Sabino afirma que, entre os atendidos pelo programa em Kansas City (EUA), o número de pessoas nas ruas caiu de 2 mil para 33.

Guilherme Franco (MG): turismo em favelas e comunidades ribeirinhas

Nascido em Ouro Fino (MG) e formado em administração na FGV-SP, Guilherme Franco criou a agência [un]tourism, que promove o turismo em pequena escala em áreas com pouca visibilidade e estrutura, como favelas ou comunidades ribeirinhas na Amazônia.

Franco visita essas comunidades e as orienta sobre como receber os turistas. O público principal, segundo ele, são "estrangeiros que procuram uma experiência autêntica e têm dificuldade de encontrá-la no Brasil".

Os locais selecionados são promovidos no site da agência, que faz a ponte entre os moradores e os clientes. Depois da viagem, os turistas podem avaliar a experiência. Uma das casas listadas fica na favela Paraisópolis, em São Paulo.

O administrador diz que o turismo pode ajudar as comunidades a se sustentar, mas que é preciso cuidado para evitar que a atividade se torne "pasteurizada e predatória". "Não é para ser de forma alguma um safári", ele diz.