Rafaela Silva, uma campeã olímpica expõe o racismo institucional

vemvercidade 24 Fev, 2018 16:23 - Atualizado em 24 Fev, 2018 16:32 Da Redação, com El País Brasil
Rafaela Silva foi medalhista de ouro na Olimpíada do Rio.
DAVID RAMOS GETTY IMAGES Rafaela Silva foi medalhista de ouro na Olimpíada do Rio.

Não é de hoje que o racismo acompanha a trajetória ascendente de Rafaela Silva no judô. Em 2012, na Olimpíada de Londres, ela foi eliminada logo na fase prévia depois de aplicar um golpe irregular. A falha resultou em uma enxurrada de insultos racistas. Foi chamada de “macaca” nas redes sociais. Tamanho o abalo emocional pelas ofensas, quase desistiu do esporte. A volta por cima veio na Olimpíada do Rio, quatro anos mais tarde, quando conquistou o primeiro ouro para o Brasil nos Jogos. O fato de ser medalhista olímpica, atleta consagrada e bem-sucedida não a blindou de reviver velhos traumas com o episódio da última quinta-feira, que ela julga ter se tratado de uma abordagem discriminatória da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Em vídeo gravado no Instagram, Rafaela Silva questionou: "A gente no Rio de Janeiro tem que passar essa vergonha. Preto não pode andar de táxi, porque deve estar assaltando ou roubando?", disse. Em seguida, relatou o ocorrido em seu Twitter.

“Chegando hoje no Rio de Janeiro, peguei um táxi pra chegar em casa! No meio da Avenida Brasil, um carro da polícia passa ao lado do táxi onde estou, e os policiais não estavam com uma cara muita simpática. Até então, ok. Continuei mexendo no meu celular e sentada no táxi. Daqui a pouco ligaram a sirene e o taxista achou que eles queriam passagem, mas não foi o caso, eles queriam que o taxista encostasse o carro", começou a judoca, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016.


"Quando o taxista encostou, eles o chamaram para um canto. Quando olhei na janela, outro policial armado mandou eu sair de dentro do carro. Levantei e saí. Quando cheguei na calçada, ele olhou para minha cara e falou: 'Trabalha aonde?' Eu respondi... 'Não trabalho, sou atleta!' Na mesma hora ele olhou pra minha cara e falou: 'Você é aquela atleta da Olimpíadas, né?' Eu disse: 'Sim' e ele perguntou: 'Mora aonde?' Eu falei: 'Em Jacarepaguá e estou tentando chegar em casa'".


"Na mesma hora o policial baixou a cabeça, entrou na viatura e foi embora! Quando entrei no carro novamente, o taxista falou que o policial perguntou de onde ele estava vindo e onde ele tinha parado pra me pegar. E o taxista respondeu: 'Essa é aquela do judô, peguei no aeroporto' e o policial falou: 'Ah tá! Achei que tinha pego na favela'", contou.


"Isso tudo no meio da Avenida Brasil e todo mundo me olhando, achando que a polícia tinha pego um bandido, mas era apenas eu, tentando chegar em casa. Esse preconceito vai até onde?”, completou Rafaela Silva.