Zagueira da seleção e engenheira; Conheça a história da baiana de Cipó

vemvercidade 13 Ago, 2016 14:06 - Atualizado em 13 Ago, 2016 14:45
Atuando como meia-atacante pela Universidade do Mississipi, Rafaelle foi artilheira da Conferência Sudeste em 2013, com 22 gols
Foto: Joshua McCoy/Ole Miss Athletics Atuando como meia-atacante pela Universidade do Mississipi, Rafaelle foi artilheira da Conferência Sudeste em 2013, com 22 gols

Desde pequena, Rafaelle Leone Carvalho Souza, zagueira da seleção brasileira de futebol, soube que teria que dar exemplo. Filha da professora de matemática e sobrinha da diretora da escola onde estudava, em Cipó, na Bahia, tratava de tirar boas notas. As dificuldades financeiras também a pressionaram a dividir bem o seu tempo entre a paixão pela bola e os estudos. "Eu sempre quis ter uma vida menos difícil financeiramente, vendo o aperto em que meus pais viviam. E nunca achei que ia mudar de vida jogando bola. Jogava porque gostava, na rua, com os meninos, na escola".

Não conheço nenhuma outra jogadora-engenheira

Os dois interesses proporcionaram a união entre o útil e o agradável. Hoje, a defensora é engenheira civil, um nível de instrução raro no futebol. "Não conheço nenhuma outra jogadora-engenheira", diz Rafaelle, hoje mais exemplo do que nunca.

Depois de concluir o segundo grau em Cipó, a jogadora foi aprovada no vestibular para engenharia da Universidade Estadual da Bahia. Convocada para o Mundial Sub-20 da Alemanha, de 2010, conheceu a lateral-esquerda Leah Lynn, que se tornou famosa por tomar impulso para a cobrança de laterais dando cambalhotas. Filha de pais americanos, mas nascida em São Paulo, Leah mostrou a Rafaelle o caminho das pedras para poder obter uma bolsa de estudos nos Estados Unidos. "Conversava muito com ela, e ela via o meu interesse por estudar. O pai dela me indicou para a Universidade do Mississipi".

A mudança foi fundamental para Rafaelle conciliar estudos e bola. "No Brasil era difícil fazer as duas coisas, porque a faculdade era em tempo integral. Concluí o curso em um ano e meio nos Estados Unidos. Gostei muito da mentalidade deles. Sabem valorizar os atletas. Quando faltava a alguma aula para competir, escalavam professores particulares para completar o conteúdo. Os laboratórios também eram de primeira".

A engenheira é muito admirada por suas colegas. "As meninas acham o máximo. Dizem que sou fera e que vão me chamar para construir a casa delas", sorri. Quando pode, Rafaelle incentiva as amigas a estudar. "Sempre recomendo que estudem, para que não fiquem sem fonte de renda quando pararem com o futebol. Com a seleção permanente, não dá mesmo para elas fazerem faculdade agora. Ao menos algumas delas fazem um curso de inglês on line, para poderem se comunicar se forem jogar no exterior".

Rafaelle nota que tem mais facilidades para entender recomendações táticas e para se concentrar nos treinos. "Para fazer algumas movimentações, você tem que estar focado, memorizar instruções. O futebol exige bastante da parte psicológica e do intelecto. As meninas demoram mais para pegar alguma coisa que o técnico fala, talvez por causa da falta de instrução. Acho que a experiência que tive estudando me ajuda no campo, sim".

Depois de se formar, Rafaelle trocou o futebol universitário pelo profissional, assinando contrato com o Houston Dash. "O futebol feminino lá tem muito apoio. Meu time universitário tinha patrocínio. Voávamos com avião particular, ficávamos em ótimos hotéis, o estádio lotava".

Ascensão na seleção

Habilidade e polivalência. É assim que a zagueira Rafaelle chama a atenção do técnico da Seleção Brasileira Feminina, Vadão. Quando chegou à Seleção, em 2011, atuava como lateral-esquerda, posição de origem. Mas quando o treinador da equipe teve um desfalque na zaga brasileira, às vésperas da Copa do Mundo de 2015, logo acomodou Rafaelle na posição.

A jogadora tem conquistado seu espaço em campo e a confiança das companheiras e da comissão técnica. A atleta de 25 anos já disputou Sul-Americanos e Mundiais pelas categorias Sub-20 e Sub-17. Na Principal, a Copa do Mundo de 2015, o Pan-Americano de 2015, em Toronto, quando a Seleção garantiu o ouro, entre outras competições de peso.

Além de importantes atuações com a camisa verde e amarela, Rafaelle carrega também momentos particulares e vitoriosos em sua carreira. Nas semifinais do Pan-Americano 2015, a zagueira foi eleita a melhor em campo pela organização do evento no jogo contra o México, quando marcou dois gols. No mesmo ano, quando participou do Campeonato Brasileiro Feminino após ser draftada pelo América Mineiro, foi o destaque da competição.Nos Estados Unidos, Rafaelle atuou como meia-atacante e foi a artilheira da Conferência Sudeste em 2013, com 22 gols em 22 partidas. Atualmente, a jogadora defende o clube chinês Changchun Club.


Informações de Alessandro Lucchetti, iG - SP