Coordenadora de Saúde Mental em Santaluz, Merioldes Silva fala sobre depressão e ações do Município

vemvercidade 07 Jul, 2017 00:14 - Atualizado em 07 Jul, 2017 00:17
Psicóloga  e Coordenadora de Saúde Mental em Santaluz, Merioldes Santos Silva.
Foto: Divulgação/PMS Psicóloga e Coordenadora de Saúde Mental em Santaluz, Merioldes Santos Silva.

A depressão é conhecida desde muito tempo, primeiramente como loucura, melancolia, mania, fúria divina, possessão, bruxaria, tristeza, demência e psicose. Até se chegar ao 'transtorno do humor', um grande caminho foi percorrido, que iniciou na Grécia e Roma juntamente com a história da nossa civilização. Descrever o seu trajeto é descrever a história da humanidade. Um dos livros mais antigos que tem um relato e que descreve a depressão é a bíblia no Livro dos Reis quando conta a história do rei Saul.

Ela é uma doença e deve ser levada a sério, há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. Outros processos que ocorrem dentro das células nervosas também estão envolvidos.

Para conhecer a realidade de Santaluz frente a este problema, o Vem Ver Cidade bateu um papo com  a Psicóloga  e Coordenadora de Saúde Mental em Santaluz, Merioldes Santos Silva. Confira entrevista abaixo.

VVC: Quais os motivos mais comuns que levam os adolescentes e jovens a entrarem em depressão?

Merioldes Silva: A depressão em adolescentes parece estar aumentando num ritmo assustador. A falta de objetivo na vida assim como a cobrança que alguns jovens estão tendo onde o “ter” é mais importante que o “ser”, além da questão do estresse e aspectos biológicos (a genética afeta a química do cérebro e se você tem alguém na família com depressão, existe uma possibilidade que você venha a desenvolver a mesma em algum momento da sua vida).

VVC: Quais ações foram/são realizadas para combater o aumento dos índices do suicídio em Santaluz?

Merioldes Silva:A prefeita Quitéria Carneiro, tem demonstrado uma preocupação muito grande com o aumento progressivo de suicídios no nosso município e em reunião com a secretaria de saúde Jamile Sena e a nossa coordenação foram elaboradas algumas estratégias de prevenção: uma audiência publica com tema: preservação da vida, que aconteceu no auditório Lindaura Carneiro, contando com a presença de mais de oitocentas pessoas, pessoas da comunidade, professores da rede pública e privada, a prefeita, enfermeiros, agentes comunitários, psicólogos, assistentes sociais, estudantes, médicos, vereadores, equipes de profissionais do CAPS I, CAPS AD III e usuários, técnicos de enfermagem, secretaria de educação, saúde e ação social, etc, onde cada um foi conscientizado que o suicida dos sinais e que é importante identificar estes sinais e procurar ajuda da equipe de saúde mental (ajuda especializada), e que cada um fosse multiplicador destas informações. Nesta audiência foi contratado o Dr. Joel Miguez, terapeuta com formação em SE (experiências somáticas), que já desenvolve um trabalho em Salvador com pessoas que tentaram suicídio e também familiares de suicidas.

(Foto: Arquivo Pessoal)

A prefeitura tem acompanhado de perto as ações desenvolvidas na saúde mental em parcerias com a saúde e a educação, palestras nas escolas, reuniões nas comunidades e uma parceria formada com o NASF na pessoa de Railson Batista Silva coordenador da mesma com enfoque maior nas comunidades onde já houve mais de um suicídio e pessoas com elaboração suicida, onde os familiares e usuários são ouvidos e acolhidos na sua dor. 

No mês de agosto uma nova capacitação com os agentes comunitários será realizada, para que os mesmos consigam identificar pessoas com falas ou comportamento suicida e encaminhar para a equipe de suade mental.

Além de cotidianamente realizar o acompanhamento de pessoas que dão entrada no hospital e clinicas por tentativa de suicido, dentre outros.

VVC: Que medidas e intervenções ajudariam a reduzir o numero de suicídios dentro do município?

Merioldes Silva:Falar sobre o assunto. Muitas pessoas deixam de serem ajudadas por preconceito e discriminação. A pessoa tem uma ou duas tentativas de suicídio e a própria família esconde para não ser discriminada, já que na maioria das vezes  a família se sente culpada e normalmente quando a pessoa tem uma nova tentativa é com sucesso por que a próxima sempre é mais agressiva. È bom que se esclareça que ninguém tem culpa, ideação suicida é uma doença (antes era sintoma) que pode acometer qualquer pessoa.

VVC: Existe ainda um tabu ao se falar em suicídio, o assunto parece ser evitado, de que forma podemos e devemos debater sobre o tema?

Merioldes  Silva: Falar de maneira clara sobre o assunto. Se você percebe que alguém esta com algum ritual de despedida, fala suicida etc, você deve perguntar de maneira direta se a pessoa esta pensando em se suicidar. Não vai ser sua pergunta que vai induzir a pessoa ao suicídio, pelo contrario, se você pergunta, a pessoa se sente mais a vontade para abordar o assunto. O silencio é que mata, pois o outro se sente solitário na sua dor. 

Ideação suicida é algo muito serio e que deve ser levado a serio e a pessoa que esta com este pensamento esta doente e precisa de ajuda, de tratamento, de uma escuta qualificada e não de censura.

A escuta feita por profissionais da saúde mental é a melhor prevenção, só este profissional tem condições de identificar se este individuo tem perfil suicida ou não.

Acompanhe os textos da Psicologa Merioldes Silva, em coluna aqui no Vem Ver Cidade