Em sete anos, Bahia registrou aumento de 300% no nº de mortos em ações policiais

vemvercidade 16 Nov, 2023 09:16 - Atualizado em 16 Nov, 2023 09:19
Bahia foi o estado que mais registrou a morte de pessoas em ações de agentes de segurança em 2022
Foto: Paula Fróes/ Correio da Bahia Bahia foi o estado que mais registrou a morte de pessoas em ações de agentes de segurança em 2022

A Bahia foi o estado que mais registrou a morte de pessoas em ações de agentes de segurança em 2022, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (16), na pesquisa "Pele Alvo: A cor da violência policial", da Rede de Observatórios da Segurança. A informação é referente à comparação dos dados de outros sete estados, que também foram analisados no ano passado.

O levantamento indica ainda que a cada 24 horas, quatro pessoas são mortas pela força policial no estado. Nesta edição da pesquisa, além da Bahia, foram avaliados os números e registros de Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.

No último ano, conforme aponta a pesquisa, houve um aumento de 300% de óbitos em ações policiais, em comparação com 2015, e na maior parte dos casos os mortos são negros. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2022, os negros representam 80,80% da população na Bahia. Veja números apresentados pelo Observatório da Segurança:

  • *2015 - 354 pessoas mortas pela polícia

  • *2022 - 1.465 pessoas mortas pela polícia

  • *2022 - 94,76% eram pessoas negras e 74,21% tinha entre 18 e 29 anos

Para Larissa Neves, pesquisadora do Observatório da Bahia, o estado é o que mais justifica as operações policiais no combate ao tráfico de drogas.

A pesquisadora relatou que a população majoritariamente negra e da periferia, como também os agentes de segurança que são negros, usam da "força máxima" na contenção de segurança pública da capital baiana.

Marcos Rezende, historiador e especialista em segurança pública, doutorando em Direito Humanos pela Universidade de Brasília (UNB), também falou sobre o cenário. Para ele, o alto número de mortes de pessoas negras na Bahia deve-se a um processo histórico de incentivo a uma política de segurança pública armamentista e voltada para o combate.

"São promovidas operações voltadas a combater a criminalidade sempre nos mesmos territórios, que são negros, pobres e ocupados por trabalhadores que são diariamente criminalizados", afirmou Marcos.

Em entrevista ao Portal g1, Marcos afirmou que o combate à violência, pode ser resolvido com investimento em promoção de direitos, educação, saúde, garantia de emprego e renda, além de incentivo à cultura e ao esporte.

Sobre os dados indicarem que a maior parte dos negros mortos serem jovens de 18 a 29 anos, o especialista disse que isso acontece pela falta de oportunidades de mudar a realidade das suas vidas.

"Essas pessoas encontram nas organizações criminosas o único lugar de emancipação da sua vida, ainda que o respeito gerado por ela seja mediante coerção. O Estado está falhando em respostas concretas para esse tema", finalizou Marcos Rezende.