Estudantes de Araci criam luvas biodegradáveis de sisal e ganham destaque nacional
Um projeto desenvolvido por alunas do curso técnico em Análises Clínicas do Centro Territorial de Educação Profissional (Cetep), em Araci, na região sisaleira da Bahia, ganhou projeção nacional ao criar luvas biodegradáveis feitas com fibras de sisal — planta símbolo da região.
Sob orientação da professora Pachiele Cabral, o projeto surgiu em 2022 como resposta ao aumento do descarte de EPIs durante a pandemia e às reações alérgicas causadas por luvas de látex. A proposta alia sustentabilidade, inovação e valorização dos recursos locais.
Segundo a equipe, o material de bioplástico à base de Agave sisalana é antialérgico, antimicrobiano, resistente a até 160 °C e se decompõe em três semanas. Luvas de látex comuns levam até 400 anos para se degradar.
A proposta é adotar um modelo híbrido, onde parte da produção será comercializada — Foto: Arquivo Pessoal
As estudantes Sarah Moura Cruz (18) e Isabel Silva Oliveira (19) tiveram a ideia ao observar a quantidade de resíduos gerados no laboratório da escola. Com o sisal abundante na região, decidiram explorar seu potencial ecológico e social.
“Além do impacto ambiental, queremos dar visibilidade ao trabalhador do sisal, que muitas vezes vive em condições precárias. Para mim, tem também um valor pessoal, já que minha mãe trabalhou nesse setor ainda criança”, conta Sarah.
O projeto está em fase de testes avançados com apoio técnico da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e teve o pedido de patente verde protocolado no INPI, o que dá prioridade na análise por se tratar de tecnologia com impacto ambiental positivo. A professora Pachiele acredita que seja o primeiro pedido de patente nacional vindo diretamente da educação básica pública com apoio universitário.
Premiações e próximos passos
As alunas já conquistaram três prêmios na Febrace (USP) e venceram o Prêmio Solve for Tomorrow, da Samsung, além do primeiro lugar no voto popular entre mais de dois mil projetos.
Apesar da repercussão, o Cetep ainda enfrenta desafios para viabilizar a produção em larga escala. A ideia é adotar um modelo híbrido: parte da produção será vendida para garantir sustentabilidade financeira e outra parte doada a instituições públicas de saúde e educação.
“Queremos mostrar que a inovação pode nascer em uma escola pública do sertão baiano e transformar vidas, gerar renda e proteger o meio ambiente”, afirma a professora.