Mensagens vazadas da Lava Jato indicam favorecimento a jornalistas aliados

vemvercidade 20 Dez, 2019 09:45 - Atualizado em 20 Dez, 2019 09:47
Conteúdo obtido pelo The Intercept e analisado pela Folha aponta que repórteres e editores chegaram a cruzar barreiras éticas em suas relações com a força-tarefa
Foto: Reprodução Conteúdo obtido pelo The Intercept e analisado pela Folha aponta que repórteres e editores chegaram a cruzar barreiras éticas em suas relações com a força-tarefa

Conscientes da importância do uso da mídia para movimentar a opinião pública a favor da Operação Lava Jato, os membros da força-tarefa criavam estratégias de divulgação e favoreciam determinados jornalistas na liberação de informações. Diálogos obtidos pelo site The Intercept Brasil e examinados pela Folha indicam, no entanto, que alguns repórteres e editores criaram relações muito próximas com os procuradores, o que comprometeria a seriedade e a imparcialidade.

Os diálogos indicam que os membros da força-tarefa buscavam atuar com transparência e manter distância de publicações cuja linha editorial era favorável à Lava Jato, porque algumas eram consideradas partidárias. Ao mesmo tempo, em diversas situações, procuradores ajudaram repórteres de sua confiança a chegar na frente dos rivais na corrida pela notícia, ou a encontrar documentos que, mesmo liberados para o público no sistema da Justiça Federal, tinham passado despercebidos.

Da maneira como eles agiam, no entanto, o compromisso assumido com a transparência de suas ações era colocado em xeque. Muitas vezes, a Lava Jato usou seus contatos na imprensa para garantir que a visão do Ministério Público prevalecesse na cobertura do caso.

O ex-juiz Sergio Moro chegou a segurar a divulgação das chaves numéricas de processos para permitir que os procuradores as fornecessem primeiro a repórteres de sua escolha. O chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, chegou a informar alguns jornalistas com antecedência sobre novas fases da operação.

Profissionais da imprensa também romperam barreiras éticas em sua relação com os procuradores. Em março de 2015, por exemplo, um editor escreveu a Deltan para dizer que o filho de um ministro do Supremo Tribunal Federal estava vendendo facilidades no mercado. O jornalista afirmou que o procurador podia contar sempre com sua colaboração, porque tinham objetivos comuns.

Alguns repórteres chegaram a enviar a Dallagnol os textos de suas reportagens antes da publicação, para que apontasse erros ou imprecisões. Outros concordaram em publicar entrevistas que o chefe da Lava Jato respondeu por escrito, inclusive com o acréscimo de perguntas que não tinham sido feitas. Clique aqui e leia a reportagem completa.