Merioldes Silva: Retrocessos na politica de saúde mental ameaçam décadas de avanços

vemvercidade 18 Mai, 2019 15:02 - Atualizado em 18 Mai, 2019 15:23
A reforma psiquiática deu vez e voz a este sujeito e passou a vê-lo como cidadão de direito, retirar estas conquistas seria no minimo desumano.
Foto: Reprodução A reforma psiquiática deu vez e voz a este sujeito e passou a vê-lo como cidadão de direito, retirar estas conquistas seria no minimo desumano.

Este sábado . 18 de maio, marca o Dia Nacional da Luta Antimanicomial em todo país. No entanto, para profissionais da área, retrocessos ameaçam décadas de avanços na politica de atendimento à Saúde Mental.

A reforma psiquiátrica deu os primeiros passos no Brasil nos anos 70, sendo que foi na época que Franco Basaglia, famoso psiquiatra italiano que promoveu uma importante reforma no sistema de saúde mental veio por duas vezes a este pais, culminando em varias denuncias de abandono, maus-tratos e violências nos hospitais psiquiátricos.

No filme: “Em nome da razão”, de Helvécio Ratton foi a primeira denuncia feita, mostrando as pessoas um pouco da barbárie que aconteciam por trás das paredes dos manicômios, logo depois vieram livros como : “(Colônia): uma tragédia silenciosa”, segundo Paulo Amarante, um dos autores do livro, “ali é denunciado as condições sub-humanas que homens, mulheres e crianças eram submetidos, perdiam o direito a cidadania, e eram amontoados em hospitais psiquiátricos superlotados que usam tratamentos violentos que , muitas vezes, resultavam em morte – os cadáveres eram vendidos para laboratórios de anatomia de universidades. Há registros de pelo menos 60 mil mortes entre homens, mulheres e crianças em hospitais psiquiátricos.”

No livro: Clinica peripatética, o autor Antonio Lancetti fala um pouco da sua experiência em Santos (São Paulo). Uma ferramenta para entender uma série de experiências clinicas realizadas fora do consultório, em movimento. Segundo Lancetti, “o trabalho de desconstrução manicomial mostrou que o cenário do hospício, a organização dos espaços-tempos, são promotores de identidade cronificadas e que a clínica reabilitativa é imanente ao processo de desmontagem manicomial.

Com a implantação dos CAPS, começou aqui no Brasil um serviço que trata de maneira intensiva as pessoas com necessidades muito forte, não destruindo sua identidade, preservando sua cidadania, seu direito de ir e vir, com o suporte de uma equipe multiprofissional e com o suporte da família que é introduzida neste contexto. Lembrando que a luta antimanicomial  não é contra o internamento em casos específicos; é contra a internação naqueles modelos de segregação permanente a que as pessoas eram submetidas, inclusive dentre estes que eram jogados nos seus porões, estavam: prostitutas, homossexuais, moças de família que tinham perdido a virgindade, divergentes políticos, mendigos, etc, ou seja todos que de alguma maneira ou outra “incomodassem a sociedade”.

No momento estamos vivenciando um retrocesso por aqueles que não participaram e nem conhece a política publica de saúde no Brasil onde o sujeito é visto como um ser que precisar ser visto de forma holistica: comunidade, família e social. A reforma psiquiática deu vez e voz a este sujeito e passou a vê-lo como cidadão de direito, retirar estas conquistas seria no minimo desumano. Inclusive a reforma, ainda esta se ajustando a nossa realidade quanto sujeito, já que é algo relativamente novo e ainda precisa de ajustes, mas, descartar como um todo é voltar a segregar uma parte da comunidade como se fossem invisíveis e como bode expiatório de uma sociedade doente.

Por: Meriodes Silva, Psicóloga.