Ministro contradiz Bolsonaro e nega Enem com 'cara do governo'

vemvercidade 17 Nov, 2021 09:34 - Atualizado em 17 Nov, 2021 09:55 Agência Brasil
A fala de Bolsonaro veio após denúncias de servidores de interferência ideológica para mudar itens do exame deste ano
Foto: Reprodução A fala de Bolsonaro veio após denúncias de servidores de interferência ideológica para mudar itens do exame deste ano

O ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, contradisse frase do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que o Enem estaria agora com a "cara do governo".

A fala de Bolsonaro veio após denúncias de servidores de interferência ideológica para mudar itens do exame deste ano.

O ministro, no entanto, disse em entrevista à CNN nesta terça-feira (16) que não teria havido qualquer ingerência sobre o conteúdo do exame e que é o presidente quem deveria explicar sua declaração.

"As provas já foram impressas há meses (...), não há como interferir, nem eu, nem o presidente do Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais] nem o presidente da República. Essa ideia de que houve interferência é uma narrativa de alguns que querem politizar a educação", disse. "Não fui eu que falei [que a prova teria a cara do governo], tem que perguntar ao presidente [o que ele quis dizer]".

Diante de denúncias por parte dos servidores do Inep de assédio moral e pressões para alterar a prova sem respaldo técnico ou pedagógico, Bolsonaro disse na segunda-feira (15), em Dubai, que o exame, a partir de agora, atende aos princípios ideológicos de seu governo.

"Agora, começam a ter a cara do governo as questões da prova do Enem. Ninguém precisa estar preocupado com aquelas questões absurdas do passado, temas de redação que não tinham nada a ver com nada", disse o presidente.

A fala de Bolsonaro provocou reação no Congresso. A Comissão de Educação deve votar nesta quinta-feira (17) a convocação para que o ministro explique a situação. Segundo o presidente da Frente Parlamentar Mista de Educação, deputado Professor Israel Batista (PV-DF), a declaração do presidente da República corrobora as denúncias de interferência.

Parlamentares envolvidos com o tema da educação querem mais detalhes sobre a suposta interferência, incluindo a entrada de um policial federal em uma sala segura onde os exames do Inep são elaborados e cujo acesso é restrito.

A oposição quer ainda convocar o ministro para prestar esclarecimentos perante o plenário da Câmara. Os órgãos de controle também serão acionados.

Já houve representação junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) com pedido de apuração das irregularidades denunciadas e de fiscalização para avaliar a atuação do MEC e do Inep. Estão previstas ações no Ministério Público do Trabalho e na Procuradoria-Geral da República para apurar o assunto e pedir o afastamento do presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro. 

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), no exercício da presidência, também contradisse Bolsonaro nesta terça. "O presidente fez menção simplesmente a algo que é a ideia dele, pô. Tem liberdade para isso. E o Enem está baseado no banco de dados que foi construído há muito tempo, as questões não estão variando. O governo não mexeu em nenhuma questão do Enem", disse.