Rádio Comunitária Santa Luz FM completa 20 anos; conheça a história

vemvercidade 21 Mai, 2018 14:21 - Atualizado em 21 Mai, 2018 15:13

Criada entre os anos de 1997 e 1998 com a finalidade de obter-se a liberdade de expressão, de fato e de direito, através de um meio de comunicação, a Rádio Comunitária Santa Luz FM completa 20 anos em 2018. Durante essas duas décadas, a história da emissora é resumida em uma palavra: luta.

De mãos dadas com o social 

Foi exatamente em uma noite de quinta-feira, dia 21 de maio de 1998, quando o agricultor vivia a esperança da chegada do inverno, para poder jogar embaixo da terra a semente do milho e do feijão, para no período certo fazerem a colheita. Há época, setores sociais da CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil) estavam realizando por todo o país a 3ª Semana Social Brasileira: Resgate das Dívidas Sociais – justiça e solidariedade na construção de uma sociedade democrática (semana de 3 anos – 1997 a 1999). 

As Semanas Sociais fazem parte da ação evangelizadora da Igreja Católica de muitos países. A diocese de Feira de Santana, através do zonal III Bahia e Sergipe, realizava em Feira de Santana, no campus da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), a semana em três dias e teve como sub-tema: Terra, Educação, Saúde e Comunicação Social. Participou do evento, representando a Paróquia de Santa Luzia, padroeira da cidade de Santa Luz, o então líder Comunitário Ezequiel Santiago, que foi um dos que colaboraram para a fundação da rádio Santa Luz FM. Após o evento que ocorreu em Feira de Santana, o zonal quatro, sediado por Serrinha, avaliou de forma positiva a participação do seu grupo e decidiu realizar a semana social repetindo osmesmos temas de Feira de Santana.

Assim, começavam a ensaiar a luta pela democratização da informação e iniciaram a escrever a história da comunicação do município, fazendo nascer o grito pela liberdade de expressão.

Democracia e cidadania: amplificando vozes 

Antes da chegada da Santa Luz FM, pioneira na região no segmento comunitária, alguns segmentos da sociedade organizada até possuíam programas apresentados nas rádios comerciais, no entanto, pagavam valores absurdos que não condiziam com a realidade das entidades do município e do Território do Sisal. E mesmo pagando pela apresentação dos programas, as pautas que seriam apresentadas por estas instituições eram submetidas à censura da direção das emissoras.

Para fazer frente e ir de encontro aos detentores do poder, inclusive o midiático, os movimentos sociais, as igrejas Católica e Evangélicas, decidiram ousar e fundar a rádio comunitária Santa Luz FM. Por isso, era necessária a criação de um canal de comunicação que falasse a linguagem dos movimentos sociais, que discutisse as necessidades da comunidade. Desse modo, acendeu-se o desejo de fundar uma rádio que falasse com o povo e para o povo, sem ter que se submeter às ordens de grupos políticos ou mesmo de empresários e latifundiários de terras e dos meios de comunicação.

 A Santa Luz FM, assim como a maioria das rádios comunitárias do Território do Sisal, foi fundada para atuar como uma ferramenta de comunicação para as mobilizações populares fazerem o enfrentamento aos abusos e os descasos dos gestores públicos, além de denunciar todos os tipos de abuso e violência contra crianças e adolescentes. Neste mesmo contexto, as instituições que a criaram queriam possuir um canal que possibilitasse a divulgação da cultura regional e local, que discutisse o seu desenvolvimento, ajudasse a população na fiscalização dos recursos públicos e, sobretudo, que garantisse a informação sobre direitos e deveres do Cidadão.

Os movimentos sociais de Santaluz percebiam que era preciso fortalecer aspectos que interferem na apropriação de saberes e conhecimentos novos e/ou renovados e que pudessem intervir na formação sócio-educativa e cultural de indivíduos e populações com acesso dificultado às informações inter-contextuais promotoras das transformações sociais e das relações de poder entre diferentes indivíduos, grupos e organizações que os representavam. 

O grito que ecoava da sala de reuniões da sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais era a tentativa de mobilizar e solidificar a comunicação comunitária de forma interativa, crítica e democratizada, voltada para a instrumentalização de procedimentos multidisciplinar os quais possibilitassem melhorar a informação em busca de uma melhor qualidade de vida para a população de Santa Luz e região circunvizinha, à área de cobertura da rádio.

É nesse contexto, portanto, que nasceu a Rádio Comunitária Santa Luz FM, a qual ao longo de sua trajetória tem buscado contribuir com o processo de fiscalização e monitoramento das ações dos poderes legalmente constituídos, possibilitando para a comunidade o empoeiramento e o sentimento de pertencimento, em um cenário o qual, até então, era visto com certo estranhamento por boa parte da sociedade luzense.


* Colaborou Edisvânio Nascimento. Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus XIV – Conceição do Coité